Décadas De Som

Décadas De Som é um blogue que visa recordar as grandes bandas do passado que não tiveram
o espaço que mereciam na mídia, ou que já o perderam, e falar das novas que são competentes
para serem grandes, mas que por alguma razão ainda não o são.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Cabine C



"Patrocinado pela banda de maior sucesso no país, o LP da Cabine C inaugura o selo em que a banda RPM vai investir os trunfos de seu prestígio, um dos grupos prediletos dos porões paulistanos parte para enfrentar o grande público

'Fósforos De Oxford', título do primeiro LP da Cabine C, talvez os tire da obscuridade. Depois de passar dois anos navegando pelas tortuosas agitas do underground paulistano, o grupo aportou no recém-inaugurado selo RPM e agora parte não se sabe para onde. 'Vamos ser jogados aos leões. Não sabemos se vamos domá-­los ou ser comidos', diz Ciro Pessoa, vocal e guitarrista da banda.

A dúvida é plausível. Afinal algum ouvido menos educado poderia, de cara, tachá-los com aquela palavrinha que tanto tem incomodado os que têm um mínimo de informação: dark. A bem da verdade, o som da Cabine C pode parecer sombrio, o que é determinado, principalmente pelos arranjos, letras e voz de Ciro Pessoa. Ele olha sóbrio para a questão e responde: 'Faz parte da natureza da minha arte. Sempre foi desse jeito'.

A Cabine C define assim sua estética musical: 'A gente obedece a um certo clima que cada instrumento evoca, uma escala das cores' diz Marinella 7. 'Cada música tem um momento redondo: o nascer e o anoitecer do dia. Branco, amarelo, lilás, azul.' completa Wania Forghieri, 'Gosto do nome, Fósforos de Oxford, que dá uma luminosidade às ideias: à luz de fósforos', emenda Anna Ruth.

O nome do grupo remete à cabine 'C”'de um navio que parte. 'E percorre um roteiro. Passa pelo Oriente Médio na música que dá título ao LP; Buenos Aires no tango Lapso De Tempo; ou Japão através de Jardim das Gueixas' fala Ciro. Wania Forghieri brinca: 'A gente sempre leva a bússola para não se perder'. De outro lado, têm-se as referências literárias fortemente presentes neste repertório. Edgar Allan Poe inspirou versos e um conto seu deu título a uma música: 'A Queda Do Solar De Usher'. Do Oriente, Nagarjuna, autor anterior a Buda, deu a tonalidade em 'Neste Deserto'. Fora esses imortais, aparecem, vivinhos da silva: Akira S, criando um timbre todo especial com seu stick em 'Jardim Das Gueixas', e Fernando DeIuqui, contribuindo com uma guitarra rascante em 'Tão Perto'. Luís Schiavon mostrou ser um bom produtor, não interferindo na sonoridade original do grupo.

Dos tripulantes desse navio, talvez o mais conhecido seja Ciro Pessoa. Isso porque, sem dó, ele foi instituído ídolo dark local pelo caderno cultural de um diário paulista no que saiu à caça de, 'figurinhas' para suas matérias de primeira página. Quem viu e sabe do assunto se assustou ao ver a cura de Ciro tomando quase que a página toda, e o letreiro enorme: DARK. Melhor nem lembrar este tipo de incidente, para não despertar os falsos vampiros. Anna Ruth parecia mostrar alhos e crucifixos quando, ao ouvirmos todos juntos a fita deste LP, envergava o corpo numa coreografia sensual. 'Ela é nossa professora de dança', sorri Ciro. Quem segura as baquetas é Marinella 7, de formação erudita, bem aparente no som da Cabine C. Vânia Wania Forghieri fica com os teclados, criando climas bem peculiares e de rara competência. Ao contrário dos atuais tecladistas, que impõe timbres grandiloquentes, Wania Forghieri se apropria dos espaços, de forma sutil e econômica.

Além deste LP e a intenção de cair na estrada com um show bem produzido necessário para que os climas 'redondos” fiquem bem visíveis, a Cabine C já está testando outras sonoridades. 'O som está mudando. Não sabemos ainda para onde vamos, mas é uma coisa natural mudar, se aprimorar. E isso está acontecendo com cada um de nós. Daqui a pouco vamos saber o que é' explica Wania Forghieri. Enfim, tudo está ainda meio nebuloso. Mas logo as nuvens se dissiparão, mostrando o próximo porto, uma inspiração a mais. Já em terra firme, a conclusão poderia ser: 'Os tigres que já enfrentei agora cuidam de mim', como diz Ciro em 'Jardim Das Gueixas'."

Publicação baseada em um texto de Sonia Maria, publicado originalmente na Revista BIZZ em 1983.

Fósforos De Oxford:



01 Pânico E Solidão
02 Lapso De Tempo
03 Anos
04 Jardim Das Gueixas
05 A Queda Do Solar De Usher
06 Lágrimas
07 Opus2
08 Tão Perto
09 Soldadas
10 Neste Deserto
11 Fósforos De Oxford
Image and video hosting by TinyPic

Tripulantes da Cabine C:

Anna Ruth - contrabaixo;
Ciro Pessoa - guitarra, violão de 12 cordas, vocal (membro também dos Titãs);
Marinella 7 - bateria (membro também de Akira S & As Garotas Que Erraram);
Wania Forghieri - teclado.

9 comentários:

  1. file expired
    can you upload it again please?
    cheers!

    ResponderEliminar
  2. 4shared: http://www.4shared.com/file/bZHDZfvB/Cabine_C__1986__Fsforos_De_Oxf.htm

    ResponderEliminar
  3. Cara, parabéns pela iniciativa do blog. É difícil encontrar matérias dessas bandas mesmo hoje em dia com o avanço da internet e tudo mais... Tenho LPs de muitas dessas citadas no blog. Agradeço pelas informações pois não tenho nenhum material de algumas delas e outras nem conheço! Cabine C é fodaaaa!! Só estranhei a data da matéria na revista Bizz. Fizeram baseados no lançamento da banda pelo selo do RPM não? Apesar de no LP não conter a data, mas saiu bem depois disso...

    ResponderEliminar
  4. na vdd o Cabine C ficou meio na obscuridade pela própria mídia na época tacha-los de underground, e na vdd show após show ficava aquele clima de se seria legal lançar um disco ou ficar na atmosfera que era na época, algo romântico de uma banda querida sem disco gravado, me lembro que tinha "pirateado" um show que eles fizera no Madame satã, na época munido de gravador portatil, tinha ficado um som bem parecido com um albúm do Velvet Underground gravado ao vivo, um disco bem estranho de se ouvir, mas com o tempo era maravilhoso de se escutar, infelismente esse registro se perdeu no caminho, e o pior, poucas cópias foram feitas até porque gravar de cassete pra cassete ia piorando cada x mais e mais, mas o selo RPM fudeu o grupo pela total falta de distribuição, e sortudos foram os que conseguiram ter um disco ( que mantenho até hj ).
    Bem produzido, bem feito, mas estragado por alguém que não soube distribui-los, mas essa era bem a cara dos selos independentes brasileiros, bandas como Musak, Varsóvia, as Mercenárias e tantas outras vivem mesmo no conciente das pessoas que viveram a época,e que puta época foi ela, parabéns pelo blog

    ResponderEliminar
  5. Essa matéria não é de 83... o disco é de 87. Eu me lembro quando ela saiu...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O disco é de 1986, o próprio Ciro Pessoa disse pra mim

      Eliminar
  6. Cabine C é a primeira e mais famosa banda brasileira de rock gótico (apesar de Pessoa ter publicamente rejeitado quaisquer associações com a subcultura gótica), e pioneira da cold wave no Brasil.

    De sonoridade bastante inspirada por bandas como Siouxsie & the Banshees, The Cure, Cocteau Twins e Talking Heads, tem as letras do vocalista Ciro Pessoa influenciadas por poetas românticos e simbolistas como Edgar Allan Poe, Charles Baudelaire e Arthur Rimbaud, e pelo dramaturgo Antonin Artaud.

    O Cabine C foi uma banda brasileira de pós-punk formada na cidade de São Paulo em 1984, por Ciro Pessoa, que deixara sua banda anterior, os Titãs, um ano antes. Sua formação inicial consistia em Pessoa nos vocais, Wania Forghieri nos teclados, Edgard Scandurra do Ira! na guitarra, Charles Gavin (que recentemente havia se juntado aos Titãs) na bateria e Sandra Coutinho das Mercenárias no baixo (Sandra mais tarde acabaria por deixar a banda e ser substituída pelo também membro do Ira! Ricardo Gaspa).

    Em 1986, as ex-membros do Akira S e As Garotas Que Erraram Anna Ruth dos Santos e Marinella Setti juntaram-se ao Cabine C, e com esta formação lançaram seu primeiro (e único) álbum de estúdio, Fósforos de Oxford, pela recém-aberta gravadora RPM Discos, assim chamada por ter sido fundada por Paulo Ricardo e Luiz Schiavon da banda epônima.

    O álbum, que contou com participações especiais de Fernando Deluqui e Akira Tsukimoto (o titular "Akira S" do Akira S e As Garotas Que Erraram), teve uma boa recepção, mas não foi bem promovido pela gravadora, resultando em muitas pessoas nem ao menos saberem que ele existia — e, assim, foi um fracasso comercial. Devido a isto iniciou-se uma longa batalha judicial entre o Cabine C e a RPM Discos, resultando no fim de ambos em 1987.

    Antes de chegar ao fim a banda estava trabalhando num segundo álbum, que iria se chamar Cotonetes Desconexos; porém, ele nunca foi concluído.

    Uma canção da banda, "Tão Perto", foi incluída na compilação de pós-punk brasileiro underground The Sexual Life of the Savages, lançada em 2005 pela gravadora britânica Soul Jazz Records.

    ResponderEliminar